quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Capítulo II




 Mal tinha colocado os pés de novo no laboratório improvisado quando sentiu alguém o abraçando de maneira apertada. E nem pode corresponder o gesto, ou sequer perceber quem era, pois a Froakie logo o soltou e deu-lhe um soco no ombro (nem tão) de leve.
 -Draco, seu doido, o que deu em você para ir passear por aí no meio da noite? - esbravejou Kih – Quase surtamos quando acordamos e você não estava aqui!
 -Ficamos preocupados. - completou James – Nunca se sabe o que pode acontecer a um inicial desacompanhado por aí...
 -Por Arceus, vocês são muito nervosos! - Draco fez pouco caso – Só saí para respirar um pouco de ar fresco. E retornei são e salvo, não?
 -Irresponsável. - a garota cruzou os braços, ainda um tanto irritada, mas logo sua curiosidade suplantou a repreensão – Mas então... Como é lá?

 O garoto inclinou o tronco, aproximando-se deles, como se fosse contar um segredo. Ambos encurtaram um pouco mais a distância, em ato até inconsciente.
 -Vocês logo vão descobrir.
 O Fennekin teve um ataque de risos ao ver a expressão de surpresa decepcionada dos amigos.
 -Eu deveria te bater até você parar de ser tão imaturo. - grunhiu Kih, a ira voltando a sua expressão
 -Ele vai tomar jeito com a jornada. - comentou o Chespin, tentando acalmar os ânimos
 -Que logo vai começar, né? - emendou o referido, com um imenso sorriso no rosto
 A irritação não demorou a abandonar a garota ao que ela assentiu.
 -Para todos nós!
 -Então... Acho que isso é uma despedida.
 A voz de James ecoou pelo local, ainda que permanecesse em seu típico tom quase sussurrado. Os dois outros iniciais o fitaram, logo depois se entreolhando. Realmente. A partir de agora, seguiriam caminhos diferentes. Se por um lado o desconhecido encantava, encará-lo também significava uma grande mudança.
 -Ah, não fale como se isso fosse permanente. - comentou a Froakie, aproximando-se – Kalos pode ser um grande continente, mas é finito. Vamos acabar nos esbarrando por aí.
 -Além do quê, vocês não se livrarão de mim tão fácil. - emendou Draco, com seu clássico sorriso
 O Chespin sorriu, observando os amigos tão certos de que nunca perderiam aquele laço. Inegável que aquilo o confortava. Porém, ainda havia algo que o assombrava, que o fazia tremer só de pensar em tudo que o aguardava do outro lado.
 -Eu... eu tenho medo de não estar preparado. - confessou, engolindo em seco
 -Sabe de uma coisa? - começou a raposa, dando de ombros – Nenhum de nós está. Mas essa é justamente a graça! Você nunca sabe o que vai encontrar lá fora. Mas quem te garante que não vai ser algo bom?
 -E também pode ser algo que vai me derrubar... - rebateu James, abaixando o rosto, sem conseguir conter sua insegurança
 Draco colocou a mão em seu ombro, chamando sua atenção. Quando ergueu o olhar, encontrou-se com uma expressão decidida e até mesmo repreensiva.
 -Escuta aqui. Os únicos que tem a autorização de te derrubar são eu e a Kih. E, às vezes, nem a gente. Torne-se uma fortaleza e faça isso valer. Sei que você é capaz disso.
 O garoto não demorou a assentir, com um leve sorriso. Não demorou a abraçá-lo, em um gesto de agradecimento. Sentiria falta de seus amigos – afinal, estava acostumado a tê-los como seu suporte –, mas não fraquejaria. Por eles.
 Logo ele soltara o amigo, e o trio se encarou por um instante mais até se dar conta de que não podiam mais adiar. Ali era o momento onde suas rotas divergiam. Claro que diversas convergências poderiam – e iriam – acontecer; mas aquele não era o momento para essa palavra. O primeiro a tomar a iniciativa foi Draco, verbalizando a despedida e abraçando-os, em seguida direcionando-se para a saída. Já tinha dado alguns passos para fora da construção quando algo o fez parar de caminhar.
 -Draco, espera!
 A conhecida voz do Chespin ecoou por trás dele. Voltou-se na direção do som, encontrando-se com um olhar determinado como nunca vira naquele rosto.
 -Quero uma batalha contra você.
 -Vamos ter muitas chances para i... - começou, sendo interrompido
 -Mas eu quero uma agora. - houve uma breve pausa, e então ele explicou – Você diz que estou preparado, mas não sinto isso. E quero sentir. Quero entrar em uma batalha de verdade e ver que não tenho motivos para ter tanto medo.
 O Fennekin sorriu, assentindo. O amigo queria provar a adrenalina e aprender a lidar com ela. Afinal, esse instinto se dividia entre o impulso de correr ou de lutar. James fazia o tipo que optava pela primeira rota, mas não queria mais aquilo. E só por tomar a iniciativa de um desafio, e ainda por cima contra o tipo que trazia sua desvantagem, já demonstrava que realmente estava determinado a mudar aquilo.
 -Tudo bem, então. - suas mãos já estavam em chamas – Mas não me peça para pegar leve.
 Pela expressão do Chespin, ele não pediria, ainda que uma parte sua quisesse. Era uma determinação pontilhada de medo – a coragem mais verdadeira que pode existir. Sem esperar mais, a raposa avançou na direção dele, determinado a acertar-lhe um soco. James permaneceu no lugar, já preparado para não ser o primeiro a atacar. Ele não era o mais rápido daquele embate, mas era o mais forte, e tiraria proveito disso. Quando Draco o alcançou, desviou da investida e refletiu o ataque, conseguindo acertar um soco no rosto dele e o derrubando.
 Logo ele estava de pé novamente, mas o garoto usara esse tempo para se afastar alguns passos. Suas melhores chances estavam em manter-se afastado, já que as chamas fariam um dano absurdo, ou pegá-lo com a guarda baixa, como fizera há pouco. Este até não era tão difícil, pois era uma das características de seu adversário. Quase que para provar seu estilo impulsivo e sem estratégia, a raposa voltou com o mesmo ataque. E, de novo, o Chespin desviou, dessa vez o derrubando com uma rasteira.
 Porém, a autoconfiança que despertou dentro dele foi o que o traiu. Não se afastou rápido como da primeira vez, o que deu tempo para que Draco o alcançasse. Ainda no chão, ele segurou sua canela, e um grito escapou de sua garganta ao sentir a queimadura. Ele o soltou, mas a dor do ferimento lhe impediu um raciocínio e movimento rápido, dando a chance da raposa finalmente acertar-lhe um soco, efetivo o bastante para nocautear-lhe.
 James nem teve coragem de tocar na queimadura, sentindo a pele de seu queixo ardendo. O Fennekin sorriu, vitorioso, e então apagou as chamas de sua mão e estendeu-a para o amigo.
 -Foi uma boa luta. - comentou, sincero
 -Foi mesmo. - concordou o ouriço – Mas deveria ter pedido para você pegar leve.
 Ambos riram, e logo ambos estavam de pé. O Chespin precisaria de alguns cuidados médicos e acabou ficando para trás também, mas não se importava com isso. Draco precisava de um pouco de descanso para se recompor, mas não deu a mínima para isso. Finalmente, estava na estrada. E não aquela escapada da noite anterior; agora, era oficial. Sentia-se no topo do mundo – apesar de mal ter iniciado a jornada que o levaria a isso. Caminhava de maneira até tranquila considerando sua personalidade, pois não tinha pressa alguma. Por que teria, sendo agraciado por aquela sensação tão boa?
 Ao alcançar a rota, logo na primeira árvore, seu olhar encontrou o Fletchling com quem conversara na noite anterior. Ele estava sentado em um galho lendo um livro, aparentando desligamento do mundo exterior. A raposa aproximou-se, esperando até estar logo abaixo dele para falar.
 -Bom dia, intelectual.
 O garoto finalmente moveu o olhar em sua direção, ajeitando os óculos.
 -Ah, você não foi sequestrado. Bom saber que a bondade de Arceus está do seu lado.
 -Afinal, você será meu parceiro de viagem, né? - completou Draco, com um sorriso
 Felipe fechou o livro em suas mãos, o deixando para trás quando pulou da árvore.
 -Bem, eu já estava pensando em viajar mesmo... - comentou ele – Acho que entrar para uma guilda pode ser interessante... Apesar de isso ainda não ser oficialmente uma.
 De fato. Para a existência de uma guilda ser considerada, os integrantes deveriam se cadastrar no primeiro ginásio – rumores diziam que havia um desafio a espera, mas nada tão difícil. Só então seu nome passava a constar na lista oficial de guildas, e, portanto, aptas a entrarem na disputa pelo título de Campeã.
 -Ah, detalhes. - a raposa deu de ombros, já começando a caminhar – Só chegar ao primeiro ginásio.
 -“Só” - ressaltou Felipe, achando graça no tom despreocupado – E encontrar outro integrante, você se esqueceu de adicionar.
 -Ein?
 -Não sabe que são necessários três integrantes para formar uma guilda? - questionou
 Algo reconheceu aquela informação em sua cabeça, mas não conseguia lembrar com precisão. Provavelmente, Kih falou a ele e a James, mas pra variar não prestou muita atenção.
 -Acho que ouvi algo assim... - comentou – Mas que condição sem sentido...
 -Faz sentido sim. - corrigiu o Flecthling – Afinal, considerando só nós, essa parece uma guilda especialista em um só elemento.
 -Nem pensar que seria parte de uma dessas. - apontou Draco – Sem graça demais.
 E suicídio demais para alguém tão sem estratégia, refletiu o outro, mas preferiu não verbalizar seu pensamento.
 -De qualquer jeito... - ele retomou o tópico principal – Algo me diz que não será tão trabalhoso achar outro integrante para a equipe.
 -Por quê?
 -Porque temos que passar pela Floresta de Santalune para chegar ao ginásio.
 Ao que o pássaro apontou para a muralha verdejante, Draco não pode evitar estender seu sorriso. Nem queria, aliás. Automaticamente acelerou o passo, sentindo mais do que nunca o delicioso gosto de ter começado uma jornada.

Um comentário:

  1. Ficou curtinho, mas tão bonitinho <3
    E eu gostei da Kih desde o início, pena que ela e o James não vão aparecer tanto. ;^;
    Falando em James, gostei da coragem dele de desafiar o Draco. =D
    E o Felipe já me atrai, quero ver como ele vai ficar depois. /o/

    Esperando ansiosamente por mais <3

    Ari

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