Assim que Paulline
voltou, prosseguiram viagem. Chegaram a hesitar, visto a expressão cabisbaixa
da garota, entretanto, ela logo sorriu e pediu que não se preocupassem, não era
nada demais. Então, logo estavam percorrendo mais uma rota.
E dali mesmo
conseguiam ver as casas que se erguiam em um horizonte próximo. Santalune era
uma cidade modesta, mas já dava para perceber que tinha um porte diferente de
Aquacorde. Encontraram alguns outros viajantes pelo caminho seguindo na mesma
direção, ainda que a maioria não estivesse muito interessada em desafiar o
ginásio.
A rua coberta por
pequenos paralelepípedos delimitava a entrada no meio urbano. As casas eram
delicadamente arrumadas, com flores em suas janelas e tons claros em suas
paredes. Havia um pouco de comércio mais desenvolvido, ressaltados com matizes
mais fortes e alegres, dedicadas a atrair a atenção de um possível público.
E, destacando-se por
sua magnitude, havia o ginásio. Ainda que não fosse muito grande, a estrutura
característica dessa construção lhes dava a pista. Mesmo os mais desavisados
não poderiam ignorar a placa prateada em sua entrada, com as informações da
respectiva líder. Mesmo quando ainda estavam há algumas ruas de distância, já
conseguiam vê-lo. E, se é que era possível, os olhos de Draco brilharam com
ainda mais intensidade.
-Então, prontos para
uma boa batalha?
A loira ainda hesitou
em um assentimento, e nem precisou decidir-se pela ação. Afinal, o Flechtling
agiu primeiro. Com um alto suspiro, apressou-se em segurar o parceiro antes que
ele prosseguisse com seus passos.
-Acabamos de sair de
uma. É melhor passar pelo Centro para um check-up primeiro.
E assim seguiram para
o local mencionado, ao som dos altos resmungos da raposa. E, para desespero e
ansiedade dele, ainda acabaram por pernoitar lá.
-Bem, agora podemos?
– inquiriu, irritadiço
-Temos mais chance de
vitória estando descansados, sabia? – argumentou Felipe
-Que seja! Vamos
logo! – ele já tinha dado seus passos para fora da instituição hospitalar – Mal
consegui descansar sabendo que o primeiro ginásio está tão perto!
O interlocutor
limitou-se a revirar os olhos, ao que Paulline não reteve uma risadinha. E nem
falaram mais nada enquanto prosseguiam seu caminho, com o Fennekin quase
saltitando de animação.
Ao chegarem,
perceberam que havia um trio de garotas junto à cerca que delimitava o local. A
menor delas tinha pele escura, um cabelo ralo de tom oposto, e vestia uma roupa
combinando ambos os tons. Outra parecia beirar sua idade, e havia um quê de semelhança
nela e Paulline – afinal, era a pré-evolução de sua espécie. A de aparência
mais experiente tinha curtos e espetados cabelos de tom bege-acinzentado. Sua
roupa tinha vários padrões em zigue-zague, alternando entre uma cor clara e uma
escura. Essa última percebeu a aproximação deles, então logo se ergueu, sendo
seguida pelas demais. Foi quando perceberam que todas usavam patins, e não
pareciam ter problema algum em locomoverem-se com eles.
-Ora, ora,
desafiantes. – comentou a Zigzagoon – Senti falta disso.
-O que foi, o ginásio
está interditado? – perguntou Felipe
-Ah, não! Não somos
do ginásio.
-Somos do Comitê de
Cadastro de Guildas. – prosseguiu a loirinha
-Somos nós que
avaliamos se estão aptos ou não a se tornarem uma e enviamos o pedido formal. –
concluiu a que ainda não tinha falado
-Ao menos, são um
trio. Já cansei de explicar sobre o que é número mínimo. – apontou a primeira,
fazendo as outras rirem
-Bem, o que temos que
fazer? – indagou a Pikachu
-Uma batalha, é
claro! – as três responderam em uníssono
-Beleza! – Draco já
estava com as mãos em chamas – Quem vem primeiro?
-Primeiro, não. –
negou a mais velha – Vamos todas, contra todos.
A expressão de dúvida
do trio as fez rir, e ela teve que retomar a fala.
-Não são uma equipe?
Provem-nos.
Sem demorar muito
mais, as garotas começaram. Rapidamente circundaram os desafiantes, os
rodeando, como se estivessem escolhendo quem atacariam primeiro. Porém, o
Fennekin não lhes daria essa chance. Odiava se sentir acuado, então, logo
arremessou uma bola de fogo na primeira que passou a sua frente. Contudo, não
pode acertá-la, visto a agilidade delas. E sua velocidade ajudava não apenas na
esquiva, mas também na força, uma vez que o soco que atingiu a loira a jogou há
alguns metros de distância.
-Paulline! – ambos
exclamaram, em uma ação reflexa
-Tão distraídos... –
comentou a Scatterbug, enquanto atacava com sua teia
O Fletchling foi o
atingido, logo puxado pela desafiante. Como eles tinham entrado em um confronto
próprio, e a Pichu também estava ocupada, Draco se voltou para a que sobrara.
-Só eu e você agora.
– rosnou, realizando mais uma investida
A Zigzagoon desviou,
de maneira até fácil, e seguiram assim. A raposa estava tão concentrada em
atingi-la que não percebeu para onde ela se direcionava com seus desvios. Tanto
que, no quarto erro, acabou acertando Felipe pelas costas. E, ao que se
preocupou em pronunciar uma desculpa, tomou um golpe forte o bastante para
derrubá-lo.
Vendo seu companheiro
caído, Paulline priorizou desviar dos ataques a contra-atacar, e não demorou
para que tivesse escapado da mira de sua adversária e se colocado ao lado dele.
Seus punhos eram rodeados por faíscas, quase que em advertência para que não se
aproximassem. Porém, agora eram duas contra uma, e mesmo sua agilidade não
poderia ajudá-la para sempre.
Felipe não estava tão
melhor. Por sorte, o fogo cruzado que tinha recebido não o machucara, mas lhe
custara um momento de atenção, que a garota usou para enredá-lo ainda mais em
suas teias. Tentava usar o vento para desviar ou mesmo cortá-las, mas sabia que
não demoraria muito até ser impossível se mover.
De fato, em poucos
minutos, os dois remanescentes estavam no chão, declarando a vitória das
desafiadas.
Tinham voltado ao
Centro Pokémon mais rápido do que esperavam. Como não havia nenhum ferimento
grave, foram liberados de cuidados médicos rapidamente, mas nem se afastaram
demais do local. No momento, estavam em uma praça com um chafariz com a
escultura de uma Roselia, sentados diante dele. Talvez devessem observar a bela
construção, mas a atenção de nenhum deles estava ali. Afinal, que ânimo ou foco
havia depois de tão humilhante derrota?
-Aquelas garotas eram
bem rápidas... - murmurou a loira, tentando quebrar o gelo e revitalizar a
estima do grupo
-Mas nós também
somos! - protestou ele, inconformado – Não entendo como perdemos de maneira tão
humilhante!
-Talvez... O problema
esteja justamente no “nós”.
Ambos voltaram sua
atenção para o Fletchling, que estava em pé de costas para eles, fitando o ginásio
ao longe.
-O que foi, está
dizendo que somos uma má equipe? - questionou o Fennekin
Ele voltou-se na
direção dos companheiros, sentando-se próximo antes de prosseguir.
-Estou dizendo que
não agimos como uma equipe. Não perceberam? Aquele teste não é para ver o quão
forte somos. É para testar o quão harmonizados estamos. Se somos uma guilda,
temos que saber como trabalhar juntos. - houve uma breve pausa – Pensem bem no
que aconteceu naquela luta. Nós atrapalhamos uns aos outros.
Os dois desviaram o olhar
por um momento, flashes de memória passando diante de seus olhos. E não podiam
deixar de lhe dar razão.
-Nós andamos juntos,
mas ainda não somos nem de longe uma guilda. - concluiu Felipe
Alguns instantes de
silêncio se passaram, o peso daquelas palavras ecoando na mente de cada um.
-Então, o que fazemos
agora? - indagou Draco
-Bem, o conhecimento
é uma boa forma de harmonização. - comentou – Quem quer ser o primeiro a
discursar sobre seu estilo de luta?
Em um gesto muito
esperado, a raposa ergueu a mão de imediato, quase pulando, conseguindo uma
risadinha de Paulline. De certo modo, ele era quem menos precisava de
apresentação, pois era fácil conhecê-lo.
-Pois bem, Draco... -
começou ele, quase em tom de enfado – Comece. Como você treinava antes de nos
encontrar?
-Bem, eu nasci no
laboratório, sempre fui de lá. Treinava com meus dois companheiros, Kih e
James. Como não tinhamos nada para fazer e não muito para explorar,
simplesmente ficávamos brincando de pique-pega ou pique-esconde.
-E quantas vezes você
colocou fogo em algo?
O sorriso dele
apagou, em vista dos recentes acontecimentos, mas logo seu costumeiro brilho
estava de volta.
-Nem foram tantas,
okay? - protestou, cruzando os braços – E Kih sempre deu um jeito neles.
-Mal acostumado pela
Froakie. - concluiu o Flechtling
-E quanto a você,
sabichão? - bufou o loiro – O que tem em seu ilustre passado?
Ignorando as
provocações vindas de sua irritação, apenas respondeu.
-Cresci em um
vilarejo, um entreposto entre a cidade de Aquacorde e a Floresta de Santalune.
Nunca passei muito além dos limites de nenhum dos dois, apesar de ter treinado
algumas vezes na floresta.
-Sempre foi dedicado
a treinos? - indagou a garota, curiosa
-Bastante. -
confirmou – Tenho uma meta e quero cumpri-la. - houve uma breve pausa, e então
prosseguiu – E você?
A loira ficou
automaticamente corada, sempre sem jeito quando voltavam a atenção para ela,
mas conseguiu reunir coragem para falar.
-Bem... Nada demais a
declarar. Nasci na Floresta de Santalune, e fui praticamente criada por uma
amiga que morava bem próximo. Ela é muito forte e corajosa, então me inspirou
muito. Dizem que ela tem jeito de ladra por ser muito rápida e vez ou outra
pegar algo dos humanos.
Enquanto falava, foi
inevitável um sorriso aparecer em seu rosto, mas também havia um toque de
tristeza em seu olhar. A discussão ainda estava bem marcada em sua mente, e seu
peito doía em pensar que talvez nunca mais Liesel fosse mirá-la com carinho
novamente.
-Ah, foi dela que
você foi se despedir? - indagou Draco, ganhando um fraco assentimento como
resposta
Felipe deixou um
murmurio escapar, tentando organizar seus pensamentos e encontrar uma resposta.
Não deveria ser tão difícil equacionar suas habilidades e fraquezas em um bom
equilíbrio. Paulline era rápida, mas não muito forte. Draco tinha um ótimo
potencial com suas chamas, mas não pensava antes de agir. Tinha sorte por ser
imune a ferimentos daquele tipo, se não ainda teria as marcas disso...
Foi quando percebeu.
As desafiantes se aproveitaram de sua velocidade e um momento de descuido para
fazer os ataques dele virarem contra sua própria equipe. E, juntando sua
agilidade e de Paulline... Talvez conseguissem fazê-las serem atingidas sem
sequer perceberem, como elas mesmas fizeram.
-Acho que agora temos
um plano. - anunciou para os companheiros, com um sorriso vitorioso
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