domingo, 5 de abril de 2015

Capítulo IV




 Assim que Paulline voltou, prosseguiram viagem. Chegaram a hesitar, visto a expressão cabisbaixa da garota, entretanto, ela logo sorriu e pediu que não se preocupassem, não era nada demais. Então, logo estavam percorrendo mais uma rota.
 E dali mesmo conseguiam ver as casas que se erguiam em um horizonte próximo. Santalune era uma cidade modesta, mas já dava para perceber que tinha um porte diferente de Aquacorde. Encontraram alguns outros viajantes pelo caminho seguindo na mesma direção, ainda que a maioria não estivesse muito interessada em desafiar o ginásio.

 A rua coberta por pequenos paralelepípedos delimitava a entrada no meio urbano. As casas eram delicadamente arrumadas, com flores em suas janelas e tons claros em suas paredes. Havia um pouco de comércio mais desenvolvido, ressaltados com matizes mais fortes e alegres, dedicadas a atrair a atenção de um possível público.
 E, destacando-se por sua magnitude, havia o ginásio. Ainda que não fosse muito grande, a estrutura característica dessa construção lhes dava a pista. Mesmo os mais desavisados não poderiam ignorar a placa prateada em sua entrada, com as informações da respectiva líder. Mesmo quando ainda estavam há algumas ruas de distância, já conseguiam vê-lo. E, se é que era possível, os olhos de Draco brilharam com ainda mais intensidade.
 -Então, prontos para uma boa batalha?
 A loira ainda hesitou em um assentimento, e nem precisou decidir-se pela ação. Afinal, o Flechtling agiu primeiro. Com um alto suspiro, apressou-se em segurar o parceiro antes que ele prosseguisse com seus passos.
 -Acabamos de sair de uma. É melhor passar pelo Centro para um check-up primeiro.
 E assim seguiram para o local mencionado, ao som dos altos resmungos da raposa. E, para desespero e ansiedade dele, ainda acabaram por pernoitar lá.

 -Bem, agora podemos? – inquiriu, irritadiço
 -Temos mais chance de vitória estando descansados, sabia? – argumentou Felipe
 -Que seja! Vamos logo! – ele já tinha dado seus passos para fora da instituição hospitalar – Mal consegui descansar sabendo que o primeiro ginásio está tão perto!
 O interlocutor limitou-se a revirar os olhos, ao que Paulline não reteve uma risadinha. E nem falaram mais nada enquanto prosseguiam seu caminho, com o Fennekin quase saltitando de animação.
 Ao chegarem, perceberam que havia um trio de garotas junto à cerca que delimitava o local. A menor delas tinha pele escura, um cabelo ralo de tom oposto, e vestia uma roupa combinando ambos os tons. Outra parecia beirar sua idade, e havia um quê de semelhança nela e Paulline – afinal, era a pré-evolução de sua espécie. A de aparência mais experiente tinha curtos e espetados cabelos de tom bege-acinzentado. Sua roupa tinha vários padrões em zigue-zague, alternando entre uma cor clara e uma escura. Essa última percebeu a aproximação deles, então logo se ergueu, sendo seguida pelas demais. Foi quando perceberam que todas usavam patins, e não pareciam ter problema algum em locomoverem-se com eles.
 -Ora, ora, desafiantes. – comentou a Zigzagoon – Senti falta disso.
 -O que foi, o ginásio está interditado? – perguntou Felipe
 -Ah, não! Não somos do ginásio.
 -Somos do Comitê de Cadastro de Guildas. – prosseguiu a loirinha
 -Somos nós que avaliamos se estão aptos ou não a se tornarem uma e enviamos o pedido formal. – concluiu a que ainda não tinha falado
 -Ao menos, são um trio. Já cansei de explicar sobre o que é número mínimo. – apontou a primeira, fazendo as outras rirem
 -Bem, o que temos que fazer? – indagou a Pikachu
 -Uma batalha, é claro! – as três responderam em uníssono
 -Beleza! – Draco já estava com as mãos em chamas – Quem vem primeiro?
 -Primeiro, não. – negou a mais velha – Vamos todas, contra todos.
 A expressão de dúvida do trio as fez rir, e ela teve que retomar a fala.
 -Não são uma equipe? Provem-nos.
 Sem demorar muito mais, as garotas começaram. Rapidamente circundaram os desafiantes, os rodeando, como se estivessem escolhendo quem atacariam primeiro. Porém, o Fennekin não lhes daria essa chance. Odiava se sentir acuado, então, logo arremessou uma bola de fogo na primeira que passou a sua frente. Contudo, não pode acertá-la, visto a agilidade delas. E sua velocidade ajudava não apenas na esquiva, mas também na força, uma vez que o soco que atingiu a loira a jogou há alguns metros de distância.
 -Paulline! – ambos exclamaram, em uma ação reflexa
 -Tão distraídos... – comentou a Scatterbug, enquanto atacava com sua teia
 O Fletchling foi o atingido, logo puxado pela desafiante. Como eles tinham entrado em um confronto próprio, e a Pichu também estava ocupada, Draco se voltou para a que sobrara.
 -Só eu e você agora. – rosnou, realizando mais uma investida
 A Zigzagoon desviou, de maneira até fácil, e seguiram assim. A raposa estava tão concentrada em atingi-la que não percebeu para onde ela se direcionava com seus desvios. Tanto que, no quarto erro, acabou acertando Felipe pelas costas. E, ao que se preocupou em pronunciar uma desculpa, tomou um golpe forte o bastante para derrubá-lo.
 Vendo seu companheiro caído, Paulline priorizou desviar dos ataques a contra-atacar, e não demorou para que tivesse escapado da mira de sua adversária e se colocado ao lado dele. Seus punhos eram rodeados por faíscas, quase que em advertência para que não se aproximassem. Porém, agora eram duas contra uma, e mesmo sua agilidade não poderia ajudá-la para sempre.
 Felipe não estava tão melhor. Por sorte, o fogo cruzado que tinha recebido não o machucara, mas lhe custara um momento de atenção, que a garota usou para enredá-lo ainda mais em suas teias. Tentava usar o vento para desviar ou mesmo cortá-las, mas sabia que não demoraria muito até ser impossível se mover.
 De fato, em poucos minutos, os dois remanescentes estavam no chão, declarando a vitória das desafiadas.

 Tinham voltado ao Centro Pokémon mais rápido do que esperavam. Como não havia nenhum ferimento grave, foram liberados de cuidados médicos rapidamente, mas nem se afastaram demais do local. No momento, estavam em uma praça com um chafariz com a escultura de uma Roselia, sentados diante dele. Talvez devessem observar a bela construção, mas a atenção de nenhum deles estava ali. Afinal, que ânimo ou foco havia depois de tão humilhante derrota?
 -Aquelas garotas eram bem rápidas... - murmurou a loira, tentando quebrar o gelo e revitalizar a estima do grupo
 -Mas nós também somos! - protestou ele, inconformado – Não entendo como perdemos de maneira tão humilhante!
 -Talvez... O problema esteja justamente no “nós”.
 Ambos voltaram sua atenção para o Fletchling, que estava em pé de costas para eles, fitando o ginásio ao longe.
 -O que foi, está dizendo que somos uma má equipe? - questionou o Fennekin
 Ele voltou-se na direção dos companheiros, sentando-se próximo antes de prosseguir.
 -Estou dizendo que não agimos como uma equipe. Não perceberam? Aquele teste não é para ver o quão forte somos. É para testar o quão harmonizados estamos. Se somos uma guilda, temos que saber como trabalhar juntos. - houve uma breve pausa – Pensem bem no que aconteceu naquela luta. Nós atrapalhamos uns aos outros.
 Os dois desviaram o olhar por um momento, flashes de memória passando diante de seus olhos. E não podiam deixar de lhe dar razão.
 -Nós andamos juntos, mas ainda não somos nem de longe uma guilda. - concluiu Felipe
 Alguns instantes de silêncio se passaram, o peso daquelas palavras ecoando na mente de cada um.
 -Então, o que fazemos agora? - indagou Draco
 -Bem, o conhecimento é uma boa forma de harmonização. - comentou – Quem quer ser o primeiro a discursar sobre seu estilo de luta?
 Em um gesto muito esperado, a raposa ergueu a mão de imediato, quase pulando, conseguindo uma risadinha de Paulline. De certo modo, ele era quem menos precisava de apresentação, pois era fácil conhecê-lo.
 -Pois bem, Draco... - começou ele, quase em tom de enfado – Comece. Como você treinava antes de nos encontrar?
 -Bem, eu nasci no laboratório, sempre fui de lá. Treinava com meus dois companheiros, Kih e James. Como não tinhamos nada para fazer e não muito para explorar, simplesmente ficávamos brincando de pique-pega ou pique-esconde.
 -E quantas vezes você colocou fogo em algo?
 O sorriso dele apagou, em vista dos recentes acontecimentos, mas logo seu costumeiro brilho estava de volta.
 -Nem foram tantas, okay? - protestou, cruzando os braços – E Kih sempre deu um jeito neles.
 -Mal acostumado pela Froakie. - concluiu o Flechtling
 -E quanto a você, sabichão? - bufou o loiro – O que tem em seu ilustre passado?
 Ignorando as provocações vindas de sua irritação, apenas respondeu.
 -Cresci em um vilarejo, um entreposto entre a cidade de Aquacorde e a Floresta de Santalune. Nunca passei muito além dos limites de nenhum dos dois, apesar de ter treinado algumas vezes na floresta.
 -Sempre foi dedicado a treinos? - indagou a garota, curiosa
 -Bastante. - confirmou – Tenho uma meta e quero cumpri-la. - houve uma breve pausa, e então prosseguiu – E você?
 A loira ficou automaticamente corada, sempre sem jeito quando voltavam a atenção para ela, mas conseguiu reunir coragem para falar.
 -Bem... Nada demais a declarar. Nasci na Floresta de Santalune, e fui praticamente criada por uma amiga que morava bem próximo. Ela é muito forte e corajosa, então me inspirou muito. Dizem que ela tem jeito de ladra por ser muito rápida e vez ou outra pegar algo dos humanos.
 Enquanto falava, foi inevitável um sorriso aparecer em seu rosto, mas também havia um toque de tristeza em seu olhar. A discussão ainda estava bem marcada em sua mente, e seu peito doía em pensar que talvez nunca mais Liesel fosse mirá-la com carinho novamente.
 -Ah, foi dela que você foi se despedir? - indagou Draco, ganhando um fraco assentimento como resposta
 Felipe deixou um murmurio escapar, tentando organizar seus pensamentos e encontrar uma resposta. Não deveria ser tão difícil equacionar suas habilidades e fraquezas em um bom equilíbrio. Paulline era rápida, mas não muito forte. Draco tinha um ótimo potencial com suas chamas, mas não pensava antes de agir. Tinha sorte por ser imune a ferimentos daquele tipo, se não ainda teria as marcas disso...
 Foi quando percebeu. As desafiantes se aproveitaram de sua velocidade e um momento de descuido para fazer os ataques dele virarem contra sua própria equipe. E, juntando sua agilidade e de Paulline... Talvez conseguissem fazê-las serem atingidas sem sequer perceberem, como elas mesmas fizeram.

 -Acho que agora temos um plano. - anunciou para os companheiros, com um sorriso vitorioso

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